quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O que hà

"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço..."


(Alvaro de Campos)

2 comentários:

  1. Eu nao teria dito com tanta beleza! No lugar do Alvaro, eu teria colocado algo assim no facebook - "devia ter ficado na cama! hunfs"

    haha

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  2. Como disse Luana, acho que jamais falaria do cansaço de forma tão expressiva hahahah Fui ao museu da Lingua Portuguesa em SP e ao escutar textos de poetas conhecidos, quando percebi estava tomada pela emoção me debulhando em lágrimas rs...

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By Gisa