segunda-feira, 9 de maio de 2005

Tempestades

Depois da tormenta vem a calmaria.
Mas nela eu percebo que não existe nada melhor que uma tempestade pra fazer eu me sentir viva.

Durante a tempestade eu sinto medo, raiva, revolta... mas tembém me sinto forte e encontro coragem pra me manter viva. A revolta me traz esperança e me faz acreditar que a tempestade irá acabar.

Durante a tempestade eu esqueço o que é 'certo' ou 'errado'. Tudo que eu desejo é passar pela tormenta e chegar viva à calmaria.

Neste momento eu percebo que as correntes que colocaram em mim pra nada serviram.

Nesse momento, nenhum ato 'moralmente' correto que fiz no passado pode me ajudar.

E eu me lembro de todas as coisas que deixei de fazer porque me ensinaram que aquilo não deveria ser feito. Ter sido 'boazinha' não está me ajudando agora.

Agora eu percebo que o que eu mais quero é viver. Não quero passar pela vida, mas realmente VIVER.

Mas depois que a tempestade passa e a calmaria chega, eu me sinto tão leve que acabo me acomodando. O medo, a raiva e a revolta já não estão mais presentes pra me impulsionar. E eu deixo de me importar se as coisas não são como deveriam ser, pois, afinal, eu estou sobrevivendo e, depois de uma tempestade, manter-me vivo é o que importa. Se as coisas estão certas ou não... isso já não me preocupa mais.

Como diz Dickens... 'eu me vejo novamente numa palidez de morte'. Não a morte como ela se apresenta sob o caixao... Mas a morte como ela se apresenta em vida, quando não há nada mais em que a gente possa acreditar, nada mais pelo que valha a pena lutar.

Não sinto amor, não tenho paixão, não tenho raiva, não tenho medo... não tenho nenhum sentimento que me faça lembrar que estou viva. Apenas deixo os momentos passarem.... enquanto me lastimo por não ter feito tudo diferente no passado.

Então me lembro da tempestade... me lembro que nela eu me sentia viva. Eu chorava, gritava, sentia medo... mas também me sentia viva. Agora, na calmaria, tudo que eu sinto é novamente aquela palidez de morte.

Isso me faz lembrar dos momentos que não vivi, dos erros que não cometi... e isso me faz desejar ter errado mais. Pois as lembranças que mais doem agora não são dos erros que cometi, não são dos momentos nos quais eu caí... mas o que mais dói é a saudade de tudo que eu não vivi, de sensaçoes que nunca experimentei, de relacionamentos em que nunca me arrisquei.

A palidez de morte não me permite sentir nada. Nada que eu ardentemente deseje, nada que me inspire, nada que me assuste, nada que me machuque, nada que me desaponte. Tudo que podia me ferir já foi usado e todas as pessoas que poderiam me decepcionar já me decepcionaram. Então não há nada mais pelo que esperar, nada mais em que acreditar, ninguem mais em quem confiar.

Na calmaria descobri que lutei a vida inteira por paz, e agora que a consquistei descobri que não sobrou mais nada alem disso. O preço que paguei por ela foi extremamente alto, e hoje percebo que talvez não tenha valido a pena.

Eu poderia mudar tudo... mas estou em um entorpecimento tão confortável que não consigo me importar nem mesmo por estar morta.

E assim os anos passam... anos dos quais eu nunca terei lembranças, pois passo por eles abrindo mão de tudo que poderia me fazer sentir viva.

Tudo que eu faço é deixar a vida passar enquanto a observo, inerte, através do caixão.


Carol Cavendish

Observação feita em 2008: Eu estava ABSOLUTAMENTE ERRADA em relação à "Tudo que poderia me ferir já foi usado e todas as pessoas que poderiam me decepcionar já me decepcionaram."
By Gisa