terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O egoìsmo que vem do berço

Italianos vivem reclamando do egoismo tipicamente italiano. Vivem resmungando que os italianos deveriam ser mais unidos, menos egoistas, mais solidarios... e quase sempre usam os americanos como exemplo. E se para eles os americanos sao sinonimos de solidariedade, dà para imaginar em que nivel de egoismo nos encontramos por aqui, nè?

Mas aì, enquanto eles sonham com uma Italia melhor e mais unida... olha como eles criam os filhos: praticamente como semideuses - que podem fazer tudo, que podem ter tudo, que sò eles importam, sò eles sao o centro das atençoes, que sò sobre eles girao mundo, o governo, o universo e  toda a eternidade.

As crianças italianas crescem aprendendo que sao o centro do mundo e que este deve servi-las. Com tanto egocentrismo na infancia como è que estes pais esperam que estas crianças se tornem adultos solidarios? Eh como plantar tomates e esperar colher algodao!

Por exemplo, uma das coisas que mais odeio quando decoro lojas è quando as crianças querem bexigas (pra quem nao è do Paranà, bexiga = baloes). Nas festas isso nao acontece porque quando eu decoro o salao eu estou sozinha... mas nas lojas os clientes sempre estao entrando e saindo. Aì entra a criança com a mae, pai ou avo, ela chora (sim, porque criança italiana nao sabe pedir, sò sabe chorar) que quer uma bexiga e aì o adulto chega em mim, estufa o peito e dà a ordem:

- ELA QUER uma bexiga!

Assim mesmo... na maior prepotencia possivel. Nem um "por favor", nem um "Serà que voce poderia"... NAO NAO NAO. Sò uma frase seca e arrogante: "ELA QUER uma bexiga!"... Como se o simples fato da criança querer uma bexiga significasse minha OBRIGAçAO de dar!

Eu NUNCA dou. A criança chora, a mae reclama, eu faço publicidade negativa, perco o cliente... nao importa... mas NAO DOU, mesmo!

Primeiro, nao tenho obrigaçao de dar nada, sou contratada para decorar a loja, nao para distribuir baloes. Segundo, se a pessoa quer um balao deve me pedir por favor, porque eu nao tenho obrigaçao de dar nada pra ninguem. E terceiro e mais importante: a criança tem que saber que o mundo nao gira em torno dela, senao quando ela crescer vai aprender isso da pior forma possivel.

O pior caso aconteceu em uma padaria: eu estava decorando a porta quando a criança entrou e começou a chorar que queria um balao e a mae - que viu minha sacola com baloes -, disse ao filho: "PEGA ALI!" sem nem ao menos me perguntar se podia. Como diz o Henry: "MA STIAMO SCHERZANDO"?? (tà brincando)? Eu virei o bicho, nao suporto esse tipo de coisa.

- Desculpe, minha senhora, mas esses baloes sao sò para decoraçao.
- Ah, mas um nao vai fazer diferença, nè?
- Vai porque eu trouxe sò o numero necessario de baloes, e depois a senhora nem ao menos me pediu.
- Mas a dona da loja è minha amiga...
- Sim, mas eu sou paga para fazer a  decoraçao, nao para distribuir baloes
- Entao me venda um! (Ela disse isso com a maior prepotencia possivel, me MANDANDO vender)
- Eles nao estao a venda e nao sao apropriados para crianças.

Eh claro que os baloes sao apropriados, mas eu sei que quando se coloca um "pericolo" em alguma coisa, as maes italianas se cag.... de medo. Foi golpe baixo, eu sei, mas que me condene quem nunca de voces teve um europeu te mandando fazer alguma coisa sò pelo simples fato de ele ser europeu e voce, sudamericana.

A criança ficou chorando, a mae ficou brava e a cliente nunca mais me ligou. To nem aì ò, a cliente era uma chata mesmo. E depois... se voce quer criar seu filho como um rei voce tem todo o direito de faze-lo, sò nao pense que as demais pessoas tenham a obrigaçao de fazer o mesmo.

Sei que era sò um balao e um balao nao me custa nem 0.05 centavos... mas è uma questao de principios. Quer dar um balao ao seu filho? Entao me peça ou vai no mercado comprar um, mas nao ache que eu tenho obrigaçao de dar porque eu nao tenho.

Outro exemplo: Quando eu era au-pair, eu cuidava de dois irmaos: um menino de 9 e uma menina de 7 anos. Um dia fomos levar uma amiguinha deles embora e essa amiguinha morava em cima da lanchonete dos avos. A menina que eu cuidava (vou chamà-la de M.) viu que ali tinha sorvetes e pediu um à senhora (vò da amiguinha). Era meu segundo dia e, como os pais das crianças tinham dito que eu nao deveria nunca usar meu dinheiro para comprar coisas pras crianças porque nos lugares onde eles compravam coisas o pagamento era feito mensalmente, eu pensei que ali fosse o mesmo caso. Quando eu estava saindo, a senhora disse:
"Voce nao vai pagar?"
A M. me olhou curiosa e perguntou:
"Mas eu TENHO que pagar?"
E a senhora ficou furiosa COMIGO, gritando sarcasticamente:
"Eu nao sei... me diz a senhora se a M. precisa pagar!"
Eu tive que dizer que nao tinha dinheiro (o que era verdade) e que no outro dia eu o levaria. Quando os pais da menina chegaram eu contei o ocorrido, eles me deram o dinheiro mas - pra minha surpresa - nao explicaram à M. que nao se pode pegar coisas nas lojas sem ter dinheiro pra pagar.

E a menina continuou fazendo a mesma coisa sempre que ìamos no mesmo lugar... atè que um dia eu estava de TPM e nao deixei ela pegar e ela aprontou um barrcao.
De noite, quando os pais chegaram, ela foi contar o ocorrido e eu mantive minha posiçao: "Se voces querem que ela coma o sorvete da fulana, devem dar o dinheiro e ensinar que ela deve comprar."
E sabem o que mais me assustou? Eh que os olhos dos pais se iluminaram, tipo quando acontece aquele momento em que a gente pensa "Nossa... è verdade... por que eu nao pensei nisso antes?"
Entao, isso me assustou porque eu vi que eles TAMBEM nunca tinham se dado conta que a filha precisava pagar pelas coisas! Achei isso um absurdo! Vi que essa coisa de "crianças semideuses" vai muito alèm e è muito mais profundo do que eu pensava.

Os pais nunca tinham parado pra pensar que a senhora da venda nao tinha menhuma obrigaçao de dar nada de graça pra menina!

E esse è sò um exemplo... mas eu poderia escrever posts e mais posts contando as 'absurdidades' que eu encontrei no modo italiano de criar os filhos.

Bom, mas isso foi sò um desabafo, acho. Eh que estou morrendo de raiva de uma cliente italiana babaca que me fez mandar quase 500 fotos por email, depois encomendou tres esculturas dificilissimas de fazer, e aì, meia hora antes da entrega ela me liga dizendo que a filha - de 9 anos - tinha mudado de ideia e queria outro tema para festa. Entao a criatura queria que eu "mudasse" a escultura... gente sao baloes! Como eu posso mudar baloes?? Aì a imbecil da mae disse que entao nao queria mais, desligou o telefone na minha cara e quando eu liguei de volta ela sò respondeu:
- Eu nao quero mais tuuuuu-tuuuuu-tuuuuuuu
Como assim minha senhora?? E as horas que perdi pra fazer o seu pedido??
Eh... nao importa. Tudo que importa è que a filha dela mudou de idèia... e o universo deve se adaptar!
By Gisa