sábado, 18 de setembro de 2010

Crises existenciais

Se eu tivesse que definir minha vida em uma frase, acho que seria mais ou menos assim: "Nao sò de felicidade vive o homem, mas de todas as crises existenciais que uma mente pode criar".

Eu fui ao Brasil. Sim. Meu tao desejado "Permesso di Soggiorno" chegou e eu pude enfim retornar ao Brasil.

OH dor, OH vida...

Pensem em uma pessoa feliz. Multipliquem por um milhao. Eh, essa dona de tanta felicidade era eu. Euzinha da Silva. E com muito orgulho do "da Silva". Senti o cheiro da minha filha, dormi com ela, dei banho nela, brinquei com ela, beijei ela, peguei ela no colo e mordi a barriga dela. Tudo que tinha direito.

Comi sagu, coxinha de bar, pastel, pudim, bauru e empadinha. Bebi suco de uva e àgua de coco. Peguei muitos vermes andando descalça no quintal e bebendo agua da torneira. Entrei nas lojas rindo e falando da vida (minha e dos outros). Tomei banho de rio e vi minha filha tomar banho no tanque. Fofoquei. Almocei sentada no sofà. Assisti novela. Fiquei devendo 10 centavos na venda. Comprei fiado. Andei na rua de Havaianas de blusa de alcinha. Fiz tudo que tinha direito.

Vamos e convenhamos, neam... eu devia estar feliz. Nao eh todo mundo que tem a sorte de ganhar de presente do maridao uma passagem pro Brasil...

Eu devia chegar abastecida e mais feliz. Devia.

Mas eu voltei cheia de vermes na pança e minhocas na cabeça. Queria por o Henry numa mala e fugir pro Brasil. Là sim que é lugar de se viver. La onde todos sao felizes, mesmo vivendo com quase nenhum dinheiro e toda dificuldade.

Eu tinha esquecido como era bom dizer "oi" e sorrir pra todo mundo... tinha esquecido como era bom fofocar. E poder sair na rua de blusa de alcinha. Tinha esquecido como era bom nao sentir medo de sorrir...

Em uma manha, passeando pelas ruas da minha cidade coberta de folhas secas, uma senhora me disse:
- Esta cidade està uma sujeira!
Eu sorri e confirmei com a cabeça, sem abrir a boca. Tive medo de que ela percebesse que eu nao era dali. Soh me ocorreu muitos dias mais tarde que eu estava no Brasil. Entao pude perceber as marcas que a minha vivencia na Italia està me deixando. Medo de sorrir, medo de falar. Medo de ser eu mesma.

Depois de dois anos aqui, jah tinha criando indiferença contra a dor. Contra a saudade. A indiferença era uma especie de anestesia contra todas as desilusoes e sofrimento. Ir ao Brasil derrubou essa parede de indiferença e o que eu encontrei foi uma dificuldade imensa de adaptaçao. Revolta ao ter que aceitar o modo como me tratam. Revolta a nao poder sorrir para os vendedores nas lojas. Revolta pela discriminaçao e racismo... Revolta.

A soluçao? Nenhuma. Voltei a fumar. A nicotina.... minha anestesia em momentos de dor profunda.

O Brasil sempre vai me fazer falta. Mas o Brasil nao me da as oportunidades que posso ter aqui. Me sinto como se estivesse me vendendo... e por tao pouco: 1000 euros ao mes!! Eh um preço tao baixo para uma alma aflita...

Mas se retorno ao Brasil, o que eu vou fazer? fazer minha filha passar fome com miseros 600 reais ao mes? Destruir todos os sonhos de ter minha familia unida (eu, Henry e Mel)?

Estou condenada a ser incompleta para sempre.

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PS: Para os que possuem mentes menos aguçadas eu faço notar como a Italia esta roubando o meu "eu". Um mes de Brasil foi o suficiente para me dar de volta minha inspiraçao para escrever. Olhem o post ai embaixo e esse aqui. Antes e Depois do Brasil. Menos formalismo (nesse post) e mais irreverencia. A modestia, eh claro, continua a mesma...


PS2: Voltei loira do Brasil e quase matei o Henry do coraçao.


PS3: Os beijos e desculpas pela falta de respostas aos comentarios nao poderia faltar: Beijos a todos e desculpa aee...

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By Gisa