terça-feira, 19 de junho de 2012

Minha casa em Ivaipora

Gente, eu jà passei por CADA coisa. Mas CADA coisa que voces nem imaginam. Essa semana, com a història da compra da casa, lembrei das casas onde jà morei e...

... Senta que là vem a història...

Quando passei no vestibular, em 1997, eu fui morar nessa cidade com uma menina da minha cidade natal que ia estudar na mesma faculdade. Como o desfecho dessa convivencia è meio chato (nao chato de vergonhoso, mas chato de entediante, mesmo), eu coloquei essa parte da historia aqui.

Depois de morar com essa menina e depois de alugar um quarto na casa de uma senhora um tanto bizarra (para os mais curiosos eu conto da senhora no link ali em cima) eu resolvi ir morar sozinha!

Zanzando pela cidade eu encontrei uma "casinha" para alugar por mìseros R$35. Nao sei bem quanto isso valia na època, mas, como eu disse eu ganhava R$180 e lembro que um chocolate prestigio custava R$0,35. Aluguei a casa e me mudei, sò contanto aos meus pais quando jà estava na "casa" nova.

A "casa" ficava no quintal da proprietaria da casa, quase encostada na casa dela. Meu novo teto mostrava os tijolos na parte de fora e tinha 3 comodos: um quartinho minusculo, uma cozinha minuscula e um banheiro sem luz, sem janela e... sem porta!

A casa era um horror, mas era A MINHA casa! Nunca consegui decidir o que me incomodava mais naquela casa: a entrada do banheiro (sem porta!) que dava na cozinha, a falta da fechadura na porta de entrada, o cimento batido nas paredes, ou... o buraco por onde eu tinha que enfiar a mao para ligar a torneira do chuveiro, diretamente ligado no cano do lado de fora!

Pensando bem, acho que o 'mais legal' da casa era mesmo o buraco do banheiro, que eu tampava todos os dias e que, por motivos òbvios, todo dia eu encontrava destampado. Eu ficava pensando se meus vizinhos - uma senhora viuva e seus 5 filhos de 17 a 28 anos - achavam mesmo que um dia eu ia chegar là e tirar a roupa sem antes verificar se o buraco estava tampado!

Eu sei que aquela casinha era um horror mesmo, mas eu nutro uma espècie de "amor" por ela. Ela foi testemunha das coisas mais bizarras que jà aconteceram comigo, como por exemplo o dia em que cheguei em casa e, quando fui pegar uma calcinha pra tomar banho, vi que nao tinha mais nenhuma! Algum maniaco (provavelmente um dos meus novos vizinhos, jà que o portao do quintal ficava sempre fechado com um cadeado) entrou em casa e levou embora TODAS as minhas calcinhas! Cara, que sacanagem! O abestado podia ao menos ter deixado UMA para que eu pudesse usar naquela noite, nè? Mas naaaao. Levaram tudo embora!

E depois teve a madrugada em que eu acordei toda molhada e vi que estava chovendo no quarto todo! Peguei minhas melhores roupas e fiquei a noite inteira em pè, com minhas roupas na mao, no meio da cozinha - o unico lugarzinho da casa em que nao chovia!

E depois tinha o filho mais velho da viuva! Ele era um peao boiadeiro que tinha uma academia improvisada na parte de tràs da casa da viuva, bem em frente à minha porta e ao buraco do banheiro. Eu acho que o cara malhava o dia inteiro, ele era CHEIO de musculos! Ele era muito simpatico e bonitinho, seu unico defeito era me atazanar todo dia para malhar com ele: bastava ele me ver chegando pra correr atràs da casa e me perguntar quando eu passava:

"Hoje voce vem?"
"Nao moço, to cansada demais!"

Nunca cheguei muito perto dele, mas alguns dias conseguimos trocar algumas palavras...  pouca coisa, porque ele sempre ficava malhando sem parar, geralmente sem camisa e, pra falar a verdade, era dificil eu conseguir me concentrar! HUHUAHA 

Aquela casa tambem foi o lugar onde mais passei fome. Eu nunca tive coragem de cozinhar nada ali, entao eu sò almoçava  no Detran. Quando eu tinha dinheiro, comprava um pao com mortadela pra comer na facul. Quando nao tinha, ia dormir com fome. Os piores dias eram os finais de semana nos quais eu nao voltava à casa dos meus pais, porque aì eu nao tinha onde almoçar e - em alguns dias - nem dinheiro. Uma dessas vezes em que nao tinha dinheiro eu estava na casa de uma colega de facul e, de improviso, caì no chao. A mae da menina veio correndo dizendo "MEu Deus, menina, voce tà branca!". Eu acho que ela entendeu que eu tava com fome e me chamou pra tomar cafè da tarde rsrsrsrs. Eu nunca disse aos meus pais que passava fome e nunca pedi comida a ninguem. Nao sei bem por que, nao sei se foi vergonha, orgulho... sei là. 

Fiquei naquela casinha por uns 4 meses, atè que minha mae insistiu em vir me visitar. Aì "minha alegria" de morar sozinha acabou: "Voce vai embora dessa casa e vai jà!!!"

E foi assim que eu fui morar em uma "republica"... mas essa è outra historia...



By Gisa