sábado, 2 de fevereiro de 2008

A colega e a senhora bizarra


Quando passei no vestibular, em 1997, eu fui morar em Ivapora com uma menina da minha cidade natal que ia estudar na mesma faculdade.

Alugamos uma casa e fizemos um acordo: como alguem da familia dela tinha um supermercado, ela ficaria responsavel por comprar e fazer comida e eu pagaria o aluguel e limparia a casa. Eu paguei 3 meses de aluguel adiantado e limpava a casa todos os dias...  e ela comprou um quilo de arroz e uma mortadela!

Eh claro que eu nao esperava que ela comprasse guloseimas, queijos e iogurtes (artigos de luxo pra universitario que mora fora), mas... arroz e mortadela como "comida" TODOS OS DIAS nao era bem o que eu tinha mente quando fizemos o acordo...

Pois bem, gente... segui almoçando e jantando mortadela por mais ou menos um mes... atè que comecei a comprar minha propria comida. Algumas semanas depois me dei conta que eu estava pagando o aluguel, limpando a casa e comprando e fazendo comida pra mim e pra ela... porque assim que comecei a comprar comida, ela parou de trazer  "arroz e  mortadela" e passou a comer o que eu comprava.

Eu ganhava R$180,00, pagava R$240,00 de faculdade, o alguel, livros, xerox, despesas varias... enfim... a comida pra nos duas começou a pesar DEMAIS no meu orçamento e vi que custava menos comer na casa de uma senhorinha na frente de casa (que me fazia R$3,50 o prato de comida) do que comprar comida pra mim e pra minha "amiga" de quarto.

Ela nao gostou, me perguntou "por que" eu nao tava mais fazendo e comprando comida, ficou emburrada por alguns dias... e depois voltou ao seu "Arroz e mortadela".

Depois de 2 meses o problema nao era mais a comida... o problema era os novos amigos que fiz na faculdade. Ela tinha um ciumes doentio de mim e toda vez que eu passava o intervalo com alguem que nao fosse ela, a bicha ficava emburrada e o retorno à casa era uma coisa horrivel.

Depois a menina começou numas de me pedir din-din emprestado. Mas nao era uma coisa tipo:
" - tem vintinho pra me emprestar?
- quem me dera!"
E fim de papo. NAAAAO. Era uma coisa do tipo:
"- Voce pode me emprestar uma grana, to precisando demaaais!
- Nao tenho...
- Eu sei que voce tem!
- Sim, eu tenho, mas è pra comprar o livro de lògica...
- Eh nada! Eu SEI que voce pode me emprestar!
- Mas eu nao posso..."
- Voce nao QUER, è diferente!..."
Enfim, o dialogo se alongava por horas e horas e eu nao emprestava o dinheiro porque eu realmente nao tinha! Aì a criatura ficava brava e ficava sem falar comigo por dias...

Qando ela viu que eu nao podia emprestar dinheiro, começou a pedir folhas de cheque. Eu jà conhecia a fama dela de caloteira na cidade (foi por isso que o acordo era que ela comprasse a comida... e nao o aluguel) e eu sempre dizia que as folhas tinham acabado, ou que o talao estava com meu pai. A coisa era SERIA gente, voces nao tem noçao. Lembro de uma vez que ela, desesperada, disse que precisava de uma folha de cheque para comprar absorventes. Eu disse que nao estava com o talao e ofereci os meus, mas ela nao quis. Alguns meses depois a dona de uma loja de sapatos veio em casa, procurando por ela para receber uma prestaçao atrasada. Ela atendeu a mulher e enrolou, enrolou... atè que a mulher desistiu e foi embora, dizendo:
"Eu sabia que nao devia vender pra voce sem cheque, eu sabia!"

Fiz as contas e ficou claro que aquele cheque que ela queria para comprar "absorventes" era, na verdade, pra comprar sapatos. 
Foi a gota d'agua!

Falando para a senhorinha que fazia o meu almoço que eu queria encontrar outra casa, ela me ofereceu um quarto para alugar. Eu aceitei e foi uma das piores coisas que eu fiz na minha vida.

Vamos deixar de lado o fato de que ela fazia comentàrios do tipo: "Dà pra ele, Gisa, dà pra ele! Eh bom demais dar!" na frente do meu namorado (porque naquela època eu tinha um namorado mas nao fazia sexo, o que a deixava perplexa)... e vamos deixar de lado tambem o fato  de que ela contava isso pra todo mundo e que isso me deu uma certa imagem de "virgenzinha burra" na cidade, fazendo com que todos os homens de ètica duvidosa daquela cidade quisessem me papar, coisa que voces jà sabem como terminou. Nao acho que ela foi culpada, mas acho que minha vida teria sido muito mais simples se ela nao tivesse feito tanta publicidade do meu hìmen. 

Tambem vamos deixar de lado o fato de que ela era macumbeira (nao me interessa se è errado dizer, pra mim quem faz macumba è macumbeiro, mesmo) e que ao chegar em casa eu sempre encontrava, embaixo da minha cama, velas pretas e cachaças de todos os tipos, alèm de encontrar objetos estranhos dentro dos meus travesseiros e no meio de minhas roupas! 

Vamos deixar tudo isso de lado. O que me fez deixar sua casa foi uma coisa muito mais simples: o aumento do preço do aluguel! Em 3 meses ela subiu o preço 3 vezes, quase duplicando o valor no ultimo mes porque - segundo ela - eu gastava MUITO papel higienico! Hahahahaha

Depois dessas duas experiencias eu resolvi ir morar sozinha... e a continuaçao da història tà là onde voce achou o link pra essa historinha boba aqui!

segunda-feira, 9 de maio de 2005

Tempestades

Depois da tormenta vem a calmaria.
Mas nela eu percebo que não existe nada melhor que uma tempestade pra fazer eu me sentir viva.

Durante a tempestade eu sinto medo, raiva, revolta... mas tembém me sinto forte e encontro coragem pra me manter viva. A revolta me traz esperança e me faz acreditar que a tempestade irá acabar.

Durante a tempestade eu esqueço o que é 'certo' ou 'errado'. Tudo que eu desejo é passar pela tormenta e chegar viva à calmaria.

Neste momento eu percebo que as correntes que colocaram em mim pra nada serviram.

Nesse momento, nenhum ato 'moralmente' correto que fiz no passado pode me ajudar.

E eu me lembro de todas as coisas que deixei de fazer porque me ensinaram que aquilo não deveria ser feito. Ter sido 'boazinha' não está me ajudando agora.

Agora eu percebo que o que eu mais quero é viver. Não quero passar pela vida, mas realmente VIVER.

Mas depois que a tempestade passa e a calmaria chega, eu me sinto tão leve que acabo me acomodando. O medo, a raiva e a revolta já não estão mais presentes pra me impulsionar. E eu deixo de me importar se as coisas não são como deveriam ser, pois, afinal, eu estou sobrevivendo e, depois de uma tempestade, manter-me vivo é o que importa. Se as coisas estão certas ou não... isso já não me preocupa mais.

Como diz Dickens... 'eu me vejo novamente numa palidez de morte'. Não a morte como ela se apresenta sob o caixao... Mas a morte como ela se apresenta em vida, quando não há nada mais em que a gente possa acreditar, nada mais pelo que valha a pena lutar.

Não sinto amor, não tenho paixão, não tenho raiva, não tenho medo... não tenho nenhum sentimento que me faça lembrar que estou viva. Apenas deixo os momentos passarem.... enquanto me lastimo por não ter feito tudo diferente no passado.

Então me lembro da tempestade... me lembro que nela eu me sentia viva. Eu chorava, gritava, sentia medo... mas também me sentia viva. Agora, na calmaria, tudo que eu sinto é novamente aquela palidez de morte.

Isso me faz lembrar dos momentos que não vivi, dos erros que não cometi... e isso me faz desejar ter errado mais. Pois as lembranças que mais doem agora não são dos erros que cometi, não são dos momentos nos quais eu caí... mas o que mais dói é a saudade de tudo que eu não vivi, de sensaçoes que nunca experimentei, de relacionamentos em que nunca me arrisquei.

A palidez de morte não me permite sentir nada. Nada que eu ardentemente deseje, nada que me inspire, nada que me assuste, nada que me machuque, nada que me desaponte. Tudo que podia me ferir já foi usado e todas as pessoas que poderiam me decepcionar já me decepcionaram. Então não há nada mais pelo que esperar, nada mais em que acreditar, ninguem mais em quem confiar.

Na calmaria descobri que lutei a vida inteira por paz, e agora que a consquistei descobri que não sobrou mais nada alem disso. O preço que paguei por ela foi extremamente alto, e hoje percebo que talvez não tenha valido a pena.

Eu poderia mudar tudo... mas estou em um entorpecimento tão confortável que não consigo me importar nem mesmo por estar morta.

E assim os anos passam... anos dos quais eu nunca terei lembranças, pois passo por eles abrindo mão de tudo que poderia me fazer sentir viva.

Tudo que eu faço é deixar a vida passar enquanto a observo, inerte, através do caixão.


Carol Cavendish

Observação feita em 2008: Eu estava ABSOLUTAMENTE ERRADA em relação à "Tudo que poderia me ferir já foi usado e todas as pessoas que poderiam me decepcionar já me decepcionaram."
By Gisa